“As palavras movem, mas são os exemplos que inspiram atitude e comportamento semelhante.”


domingo, 20 de janeiro de 2008

Festa de Sant’Ana pode fazer parte do “Patrimônio Imaterial”

Tradição de fé e religiosidade na região do Seridó há 260 anos, a Festa de Sant’Ana de Caicó pode se tornar a primeira manifestação cultural do Rio Grande do Norte a integrar o programa “Patrimônio Imaterial Brasileiro”, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão do Ministério da Cultura (Minc).
O ponta-pé para encaminhar o pedido de inclusão da Festa de Sant’Ana no “Livro de Registros de Celebrações” do Iphan começou em julho do ano passado, durante a celebração das festas religiosa e profana da padroeira do Caicó, que se transformou num evento turístico e, anualmente, trás milhares de visitantes de outras cidades e de outros estados do País, principalmente caicoenses que há muito tempo deixaram a sua terra natal. Na ocasião, uma equipe de mais de 20 pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) fez um documentário sobre o evento religioso e profano, entrevistou clérigos e fiéis, vasculhou documentos da Igreja Católica, a coleta de dados ainda incluía informações sobre a culinária e até a ornamentação do andor da procissão, tudo para embasar um dossiê que já está pronto e entregue à representante do Iphan em Natal, a arquiteta Jeane Nesi.

Pesquisa

A professora do Departamento de Antropologia da UFRN, Julie Antoniette Cavignac, explicou que toda essa pesquisa do acervo cultural da Festa de Sant’Ana foi a primeira a ser realizada pelo programa de “Pesquisa Universitária de Referências Culturais do Seridó”, executado, inclusive, com a Fundação Cultural Cefet (Funcern), que procura levantar informações sobre os lugares, expressões, celebrações e ofícios e saberes próprios da cultura seridoense. “Nós consideramos a Festa de Sant’Ana muito importante para a cultura do Estado do Rio Grander do Norte, por isso merece uma atenção particular e se tornar um destaque nacional. É muito bom”, disse ela, como já ocorre em relação ao Círio de Nazaré, de Belém (PA), o Samba de Roda do Recôncavo Baiano e ainda a Feira de Caruaru OIPE), além de outras manifestações culturais brasileiras, que já estão incluídos no “Livro de Registro” do Iphan como patrimônio imaterial do Brasil.

Pressão popular pode ajudar todo o processo

A participação popular é muito importante para persuadir o Iphan a reconhecer a Festa de Sant’Ana como um bem cultural e imaterial do País. Um dos coordenadores do movimento em Caicó, o professor universitário Muyrakytan Macedo diz que o primeiro passo foi procurar uma instituição para encaminhar, oficialmente, a solicitação ao Iphan, o que foi aceito e assinado pelo bispo diocesano de Caicó, dom Manoel Delson Pedreira da Cruz. “O registro segue um determinado ritual burocrático e encontramos um proponente para fazer esse pedido”, disse Macedo, que também conta com o apoio do pároco Edson Medeiros de Araújo, da Paróquia de Sant’Ana. O segundo passo é a coleta de assinatura para formalização de um “termo de anuência”, uma espécie de abaixo-assinado junto à população, uma campanha a ser iniciada neste fim de semana em todas as igrejas e emissoras de rádio de Caicó, que depois será juntado aos documentos já enviados ao Iphan. “O recolhimento das assinaturas será feito durante as missas e nos programas de rádio até o dia 25”, disse ele, que também participou da pesquisa sobre a Festa de Sant’Ana. Segundo o padre Edson Medeiros, existe um certo otimismo quanto a aprovação do pedido da Igreja em relação ao registro de patrimônio imaterial. “Agora estamos fazendo uma coleta de assinaturas, que não precisa ser um número muito grande, basta um número significativo, de 500 a mil assinaturas”, disse ele, que vê “Como muito positiva” a repercussão da campanha entre os caicoenses. “A Festa de Sant’Ana já é muito conhecida e badalada no Estado e pode se tornar ainda mais conhecida no Nordeste e no Brasil, assim como o frevo de Pernambuco e o acarajé da Bahia, que já fazem parte desse acervo do Iphan”, manifestou o padre.

Surgimento do culto a Sant’Ana no Seridó

Os historiadores e os registros da Igreja Católica contam que o culto a Nossa Senhora de Sant’Ana na região do Seridó remonta ao ano de 1748, quando o bispo de Pernambuco, dom Luiz de Santa Teresa, ordenou ao visitador Manoel Machado Freire a criação da Freguesia de Nossa Senhora de Sant’Ana. Até então, Caicó pertencia à Freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó (PB). Em 26 de julho daquele ano, foi erguido um cruzeiro pelo padre Francisco Alves Maia, iniciando-se a construção da atual catedral de Sant´Ana. O local escolhido foi uma planície, já que o terreno da antiga capela de Sant´Ana (ruínas do Forte do Cuó, próximo ao Hospital Tiago Dias) do Sítio Penedo era de difícil acesso por ser uma área muito pedregosa e acidentada.
Hoje a devoção à Nossa Senhora de Sant’Ana é motivo de orgulho para todo o município de Caicó, cuja população é bastante religiosa.

Culto foi aprovado pela Santa Sé em 1378

O culto público de Nossa Senhora de Sant´Ana foi aprovado pela Santa Sé em 1378, quando o papa Urbano VI o permitiu aos católicos da Inglaterra. Em 1584 o papa Gregório XIII conformou a aprovação, fixando a data de 26 de julho como o dia de celebração de culto à Nossa Senhora de Sant’Ana. A partir de 1879, o papa Leão XIII estendeu o culto a Sant’Ana a toda Igreja Católica. No Oriente, a devoção a Sant´Ana é muito mais antiga. São Tiago, em seu proto-evangelho, diz que Joaquim e Ana, pais de Maria, eram donos de certa fortuna, tendo, por isso, uma vida abastada. As suas rendas anuais eram divididas em três partes, distintas: - duas delas eram destinadas aos pobres e ao templo, sendo a outra, reservada para sí. Eram felizes, mas se afligiam por não ter um filho. Seguindo a Bíblia, nas orações que fazia a Deus, Joaquim se lastimava por isso, mas um dia, através de um anjo, os pais de Maria tiveram um dia uma filha lhe seria dada, a quem seria dado o nome de Maria, a futura mãe de Jesus. As relíquias de Sant´Ana teriam sido transportadas da Palestina para Constantinopla, no ano 170 da nossa era. De lá foram distribuídas entre muitas igrejas do Ocidente. Existe, na Igreja de Sant´Ana, em Duren (Renânia), uma relíquia da mãe da Santíssima Virgem. A devoção a Sant´Ana existente no Brasil, foi trazida pelos colonizadores portugueses, que a transmitiram a sucessivas gerações.
Fonte: Tribuna do Norte

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