O edital do novo concurso para a Polícia Federal (PF) trouxe mudanças significativas em relação à última seleção ocorrida em 2004. Alguns temas foram retirados e outros acrescentados. É o caso arquivologia, cobrada pela primeira vez para o cargo de escrivão em um concurso do órgão. Outras disciplinas, como Direito Penal, tiveram conteúdos eliminados da seleção deste ano.
As alterações, no entanto, não tornaram o concurso mais fácil ou mais difícil. Essa é a opinião de Deusdedy Solano, professora em preparatórios para concursos há dez anos,. "As seleções para a Polícia Federal sempre foram altamente complexas. Isso não vai mudar", afirma.
O edital prevê o total de 600 vagas: 400 para escrivão e 200 para agente. Ambas as funções exigem nível superior em qualquer área de formação e oferecem salário inicial de R$ 7.514,33.
O concurso da Polícia Federal é um dos mais esperados do ano. É também uma das seleções mais concorridas e difíceis. O CorreioWeb, do grupo Associados DF, conversou com especialistas e selecionou dicas importantes sobre o conteúdo, tais como: qual assunto dentro da disciplina deve ser mais cobrado, cuidados com pegadinhas e o que fazer com os 45 dias restantes para a realização da prova. Confira:
Arquivologia
Esta disciplina é uma das mudanças trazidas pelo edital. É a primeira vez que a matéria será cobrada no concurso da Polícia Federal. Mas só os concorrentes aos cargos de escrivão terão de se preocupar com ela. Em compensação, os candidatos a escrivão não precisarão mais estudar economia e contabilidade como aconteceu em outras seleções para o cargo.
De acordo com o professor Elvis Miranda, analista de arquivologia do TJDFT e professor em preparatórios para concurso, a inclusão dessa matéria é uma grande surpresa. Geralmente, arquivologia é uma disciplina cobrada apenas nos concursos de nível médio. Entretanto, o professor ressalta que, para o cargo de escrivão, a matéria é pertinente e necessária porque está diretamente relacionada com as atribuições da função.
Elvis explica que dentro da disciplina os conteúdos mais trabalhados são os que dizem respeito ao que é denominado "ciclo de vida dos documentos", que incluem os temas arquivo corrente, arquivo intermediário e arquivo permanente.
O professor ressalta que esses assuntos não são os mais complexos da seleção. E é exatamente por isso que ele pode se tornar o diferencial para a aprovação. "As pessoas optam por não estudar essa matéria por se tratar de um conteúdo de fácil compreensão. Mas não é bem assim. Se você não conhece a disciplina, não vai conseguir responder as questões corretamente. Portanto, quem estudou arquivologia garantirá pontos importantes para a classificação", argumenta.
Ele diz também que o Cespe/UnB costuma elaborar boas questões de arquivologia para seleções de nível médio. Portanto, a grande dica para os candidatos à Polícia Federal é pesquisar as provas que cobram o assunto. O concorrente deve observar os exames para descobrir quais são os temais mais pedidos e como as perguntas são formuladas. Assim, ele conseguirá identificar o que é mais importante dentro desta disciplina. "Acredito que as questões sobre arquivologia para o concurso da Polícia Federal deverão seguir a mesma linha das outras seleções do Cespe/UnB", conclui o professor.
Direito Penal
É a principal matéria para o concurso da Polícia Federal. A esta altura, os candidatos já devem ter estudado todo o conteúdo. Durante o próximo mês, a professora Deusdedy sugere que os concorrentes organizem suas anotações e resumos para uma boa revisão. É o momento de fazer exercícios e tirar todas as dúvidas.
De acordo com a professora, o Direito Penal é dividido em duas partes: uma delas trata da aplicação de leis. Esse assunto deve, a partir de agora, ser analisado através de resumos e livros de códigos comentados. A outra parte da disciplina trata de crimes que podem ser: contra a pessoa, contra o patrimônio e contra a administração pública. Com relação a esse conteúdo, a dica de Deusdedy Solano também é observar quais temas são mais cobrados nas provas. "É raro, por exemplo, perguntas sobre o item 'apropriação de coisa achada'. No entanto, crimes comuns, como lesão corporal e crimes praticados por funcionários contra a própria empresa pública costumam ser bastante pedidos", ensina.
A professora lembra ainda que a parte de processo penal também sofreu alterações. Conteúdos que dizem respeito a ação penal e competência, (matérias que tratam de provas criminais, inquéritos e prisões) foram retirados. Mas se você pensa que por causa disso as avaliações da seleção ficarão mais fáceis, se enganou. "Se o conteúdo diminuiu, significa que os temas que ficaram serão muito mais trabalhados", alerta Deusdedy.
Legislação Especial
Este assunto é um ramo do Direito que deve ser estudado à parte para o concurso da Polícia Federal. "Os candidatos já devem saber tudo na ponta da língua e do lápis", brinca o professor Ernesto Araújo, que leciona a disciplina há mais de 12 anos. Segundo ele, essa é a parte do Direito mais ligada ao trabalho dos policiais, já que trata sobre abuso de autoridade, nova lei de entorpecentes e estatuto do desarmamento. "Daqui pra frente o concurseiro deve treinar seus conhecimentos fazendo exercícios, simulados e provas de outras seleções", aconselha.
Informática
De acordo com o professor José Carlos Borges, especialista em tecnologia da informação, as questões sobre informática têm de ser analisadas com cuidado porque costumam ser alvo de muitas "pegadinhas". "Como é um assunto muito específico, qualquer detalhe pode fazer a diferença", afirma.
Os principais temas a serem estudados nos próximos dias, segundo Borges, são Conceito de internet e intranet, Conceito de proteção e segurança, Procedimentos, aplicativos e dispositivos para armazenamento de dados e para realização de cópia de segurança (back up), e Software Livre.
Atualidades
"O concurseiro não pode estudar apenas através de livros, códigos, apostilas e provas". Essa é a opinião do professor Vilmar Faria. Ele leciona "Atualidades" em preparatórios para concursos e por causa disso defende que, para dominar completamente o conteúdo, o concorrente deve estar atento ao que acontece no mundo. "Muitas questões são sobre política, economia brasileira e internacional e fatos que se correlacionam com a esfera jurídica", conta o professor.
Segundo Vilmar Faria, os temas mais importantes são fontes alternativas de energia, relações internacionais e mercado financeiro interno e externo: "Diversas vezes os enunciados das questões são elaborados com base em notícias recentes", explica. "É por isso que o candidato deve reservar pelo menos uma hora do seu dia para ler jornais e revistas e navegar na internet", completa o professor.
Opinião de quem entende do assunto
Em 2004, a seleção para a Polícia Federal ofereceu 2.317 vagas para os cargos de delegado (422), perito criminal (394), escrivão (491) e agente (1.020). Aprovado como agente, Célio Alves se dedicou por dois anos inteiros para conseguir a aprovação. Ele ensina que, para não perder o foco, é necessário montar boas estratégias de estudos e cumpri-las à risca. Faltando 45 dias para a realização da prova, ele sugere aos candidatos uma boa revisão em todo conteúdo cobrado.
Larissa Muniz tem se preparado para o certame desde o início do ano. "Parei de trabalhar só para me dedicar à seleção", conta. Em sua avaliação, quem nunca estudou para nenhum tipo de concurso público tem pouquíssimas chances de ser classificado. "Muitas pessoas se preparam para esta seleção há anos e, ainda assim, poucas são aprovadas. Não é fácil mesmo, tem que querer muito e, claro, se dedicar bastante." A candidata explica que estuda cerca de dez horas por dia.
Segundo Larissa, o fato de o Cespe/UnB ter organizado o último processo seletivo da PF ajuda, mas nem tanto. "É bom porque, como eu estudava através das provas do último concurso, já me acostumei a organizar meu raciocínio de acordo com os tipos de questões elaboradas por essa banca. Mas, ao mesmo tempo, não dá para relaxar. O Cespe/UnB é muito exigente nas avaliações. Se você erra uma questão, anula uma certa. Por isso não se pode arriscar ou brincar com a sorte. Passa quem estiver mais preparado."
Por Lidia Rezende, do Correioweb