“As palavras movem, mas são os exemplos que inspiram atitude e comportamento semelhante.”


sábado, 14 de junho de 2008

Cena da novela "A Favorita" revolta categoria dos médicos

Profissionais da saúde que lidam diariamente com o drama de pessoas queimadas repudiaram uma cena exibida quinta-feira na novela “A Favorita”, da Rede Globo. Na cena, a personagem Maria do Céu (Deborah Secco), em meio a uma discussão com o pai, joga álcool no próprio corpo, acende um fósforo e ameaça imolar-se. Segundo o médico David Gómez, chefe da unidade de queimados do Hospital das Clínicas-SP e membro da Sociedade Brasileira de Queimaduras, a cena não poderia ter sido exibida em pior momento, uma vez que toda a comunidade médica desta área mobiliza-se para derrubar as liminares que permitiram a volta da comercialização no País do álcool líquido, um produto responsável pelos mais graves acidentes com queimaduras, muitas vezes fatais. “A incidência de acidentes por causa de álcool líquido é muito grande. Muita gente assiste à novela e, infelizmente, algumas pessoas podem acabar querendo reconstituir a cena. Claro que se trata de uma ficção, mas se a pessoa fizer isso pode acabar tendo um acidente sério”, criticou o médico, que luta pela retirada total do álcool líquido do mercado e por sua substituição pelo álcool em gel, menos perigoso. Somente na emergência do HC paulista, segundo ele, mais de cem casos de queimaduras graves são atendidas todos os meses. A Rede Globo, por meio de sua assessoria, afirmou que sempre foi reconhecida por sua responsabilidade social, praticada inclusive através de suas novelas, e que jamais permitiria qualquer incentivo a comportamento contrário à dignidade humana. Lembrou ainda que “novelas são notadamente obras de ficção e, inseridas na categoria ‘entretenimento’, são abertas a toda sorte de criação artística”. “Temos exibido inúmeros temas polêmicos, que, longe de servirem de incentivo a tais práticas, têm sido uma poderosa oportunidade para a sociedade brasileira refletir a respeito. Podemos enumerar vários exemplos, como prostituição, uso de drogas, racismo, uso de armas, alcoolismo, violência doméstica, desrespeito à terceira idade e discriminação”, declara a emissora em comunicado.

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