“As palavras movem, mas são os exemplos que inspiram atitude e comportamento semelhante.”


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Assassinato da adolescente Eloá deixou a família desestruturada

Todas as vezes que vai à cozinha, a dona de casa Ana Cristina Pimentel, 42 anos, sente um aperto. Estão estampadas na porta da geladeira três marcas de balas de uma tragédia de consequências dolorosas. Ela é mãe de Eloá Pimentel, 15 anos, morta com um tiro na cabeça em outubro do ano passado depois de passar 100 horas sequestrada pelo ex-namorado Lindemberg Alves, 23 anos. Ana Cristina reclama que, além de perder a filha, o marido, Everaldo Pereira dos Santos, fugiu para não ser preso. Ele é procurado pela Polícia Civil de Alagoas. Sem a ajuda financeira do marido, a família de Eloá está na miséria.

Na época em que Eloá foi sequestrada, Everaldo morava com a família, usava o nome de Aldo e trabalhava como segurança particular. Ex-policial, recebia pensão da PM de Alagoas e da Associação de Cabos e Soldados de Maceió. Ana trabalhava numa creche e a renda familiar chegava a R$ 2,5 mil. Os dois irmãos de Eloá, um de 22 anos e outro de 14, também sofrem com a tragédia. “Fui afastada do trabalho porque não tenho condições de sair de casa todos os dias.” Contas de luz e telefone estão atrasadas.

No dia em que o Correio visitou Ana Cristina, em Santo André, o almoço estava prestes a ser servido. Na mesa, um ovo frito para cada e arroz. “Na época em que minha filha estava viva, sempre tinha carne.” Ela vive de R$ 265 que recebe de pensão por invalidez do INSS e da ajuda do filho, que é militar, e ganha um salário mínimo. “Antes, eu passeava no shopping, meus filhos faziam cursos de informática e inglês. Hoje, a diversão é assistir televisão.”

Solidariedade
Ana Cristina recebe solidariedade de vizinhos e amigos. Recentemente, foi convidada a ir a Belém (PA) conhecer Maria Augusta dos Anjos, 49, receptora do coração da filha. “Fiquei triste ao saber que a família está passando necessidade”, conta Maria Augusta. Para a viagem, Ana recebeu R$ 500 de uma ONG que incentiva doação de órgãos. Por causa de problemas psicológicos, ela usa dois medicamentos controlados doados pelo governo: sertralina(!) e clonazapam.

Ana diz ainda que é graças à droga que ela consegue dormir e sonhar com a filha. “No Dia das Mães, sonhei que estava numa praça com ela. A gente ria e se abraçava. Aí descia uma nuvem e ela sumia na névoa”, relata. Para tentar superar as dificuldades de hoje, ela faz sessão com um analista pago por programas sociais.

Depois que Eloá foi sepultada, o governo de São Paulo resolveu trocar o apartamento em que eles viviam na periferia de Santo André por uma casa de cinco cômodos. Na mudança, boa parte dos móveis ficaram para trás. Alguns, destruídos pela ação policial. O sofá, com manchas de sangue foi doado. “Sugeriram mandar lavar, mas me recusei.”

A geladeira é o único eletrodoméstico de valor que pôde ser aproveitado. Guarda as marcas de balas. “Quando olho, meu coração dói por lembrar daquele dia. Comprar outra é sonho. Queria pelo menos poder mandar para oficina para apagarem essas marcas.”

Do CorreioBraziliense.com.br

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