“As palavras movem, mas são os exemplos que inspiram atitude e comportamento semelhante.”


domingo, 23 de agosto de 2009

Distúrbio faz norte-americana pensar que está sempre cheirando mal

Sinto cheiro de terra na cozinha. Três novas plantas - uma flor da fortuna branca e duas begônias vermelhas - ficam próximas à minha janela. É abril, quase uma década atrás, e eu as trouxe para casa porque finalmente era primavera. Admiro suas flores pequeninas e densas, suas folhas verdes e brilhosas.

Porém, eu não tinha planejado seu cheiro forte e cru. Trabalhando pela casa, tento pensar em outra coisa. Quando subo as escadas, as flores me seguem, terrosas, insistentes, quase molhadas. Me pergunto como posso sentir o cheiro de três pequenas plantas domésticas que estão no andar de baixo.

Aquela tarde, na mercearia, não consegui expulsar seu cheiro úmido. Será que o cheiro, de alguma forma, se impregnou nas minhas roupas? Um dia depois, a quilômetros de distância, no consultório da minha médica em Manhattan, fico chocada em perceber o cheiro também ali. Mas ela não tem nenhuma planta em vaso.

Finalmente percebo. O cheiro forte, meu companheiro (que não foi convidado) há quase dois dias, está na minha cabeça, não fora dela. Envergonhada, acho que emito odores. Conversando com amigos, cubro minha boca com a mão. Escovo os dentes com mais frequência, uso enxaguante bucal compulsivamente. Porém, meu marido diz que meu cheiro é bom - não tenho mau hálito. Finalmente, ligo para minha médica.

Descubro que sofro de fantosmia. "Osmia", do grego osme, significa "cheiro". Unindo a "fanto" (como em "fantasma"), refere-se a uma sensação de cheiro ilusória. Sinto cheiro quando nenhum emissor de odor está presente.

Inevitavelmente, tive de realizar exames médicos. Fiz uma ressonância magnética do cérebro (para descartar a possibilidade de tumor), depois uma tomografia computadorizada das fossas nasais (buscando uma infecção), e finalmente um eletrocardiograma (alucinações olfativas podem ocorrer em casos de epilepsia). Os resultados foram negativos, e duas temporadas de antibióticos (será que havia uma infecção nasal escondida?) foram meu único - e infrutífero - tratamento.

Um ano depois, percebi que o odor terroso finalmente tinha ido embora. Mas, para minha decepção, um novo cheiro imediatamente o substituiu. Meu marido tinha queimado um grande pote de pimenta. Pimenta queimada se tornou meu novo odor-padrão. Pelo menos era melhor que terra.

Depois, cerca de sete anos mais tarde, uma viagem para a Provença apagou o cheiro de pimenta. A lavanda flutuava no ar, tornando-se meu novo cheiro. A paisagem invadida pela lavanda no sul da França - buquês secos, sabonetes e velas aromáticas, até o tempero dos alimentos - me trouxe de volta para casa. Algumas pessoas acham que tenho sorte - lavanda é muito popular. Mas eu odiava esse cheiro, que entrou sorrateiramente no meu cérebro.

Tentei, em vão, enganar meu nariz. Segurar limão embaixo do nariz não fez o cheiro desaparecer. Espalhar perfumes e loções fortes ao redor do nariz também não funcionou. Um odor poderoso como amônia pode vencer a lavanda por um instante, mas a cura é pior que a doença.

Há alguns anos, os cheiros têm variado, alguns mais fortes que outros. A novidade é que esses odores estão apenas brevemente relacionados com o mundo exterior. Toques de amônia, mas definitivamente não amônia. Toques de fábrica de papel, mas não realmente isso. Quando senti o cheiro da pimenta queimada, sabia que a pimenta estava ali fora, em algum lugar. Quando sinto meus atuais cheiros, não consigo relacioná-los ao mundo real. Eles me assustam como um membro fantasma.

Às vezes, não sei dizer se um cheiro está dentro ou fora da minha cabeça. Levando o cachorro para passear, chorei quando senti cheiro de fezes, convencida de que ele se alojaria na minha cabeça. Em casa, fiquei feliz por ele ter ido embora. No dia seguinte, o cheiro horrendo reapareceu no mesmo ponto. Dessa vez, percebi o sinal de alerta: jardineiros tinham espalhado fertilizante. Somente então me dei conta de que o cheiro era real.

Evitar odores repulsivos é minha primeira tática de defesa. Há um café próximo da minha casa onde eu simplesmente não entro. Ele está cheio de barris de madeira de grãos de café fedidos; moradores locais reclamam, pois conseguem sentir a torrefação a vários quarteirões de distância. Eu mando meu marido comprar café, enquanto espero no carro - com as janelas fechadas.

Já tentei a tática oposta, de me esforçar para gravar na memória perfumes favoritos, flores frescas, aquele cheiro maravilhoso da padaria. Mas não... minha fantosmia é especialista em coisas desagradáveis.

Esse é o caso típico, hoje eu sei. Dr. Donald Leopold, presidente do departamento de otorrinolaringologia do Centro Médico da Universidade de Nebraska, em Omaha, estuda distúrbios olfativos há 30 anos. Na fantosmia, afirma Leopold, as passagens nasais e o cérebro têm um papel importante, especialmente o cérebro, "onde a verdadeira percepção de cheiro é gerada".

Quase sempre o paciente perdeu a habilidade de sentir odores. Leopold afirma que o cérebro, "que tem uma propensão a criar cheiros", faz uma supercompensação, oferecendo odores, geralmente desagradáveis, que podem ter existido anteriormente, mas foram suprimidos. Parece que certos neurônios, que trabalharam para excluir esses odores, se desligam.

Leopold garante que "há tratamento disponível", mas eu não tentei os drops nasais, antidepressivos, remédios anticonvulsão ou sedativos, recomendados por um médico ou outro. Basicamente, tento não pensar só na fantosmia, forçando minha atenção para outra coisa. Se isso não funciona, tento rir da situação absurda. Ganho mais essas disputas do que você imagina.

Aprendi que é melhor manter esse distúrbio em particular. Alguns amigos se mostram constrangidos quando me ouvem falar sobre isso, como se eu fosse louca. A fantosmia está relacionada a certos distúrbios psiquiátricos (esquizofrenia, depressão, mal de Alzheimer), mas eu não sofro dessas enfermidades. No entanto, eu me pergunto o que realmente significa ter alucinações com cheiros. Essas explicações neurológicas não me satisfazem por completo. Não há nada mais simples que o nariz do meu rosto - mas, ao mesmo tempo, não há nada mais misterioso.

*Jane G. Andrews é ensaísta e mora em Southampton, NY

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