“As palavras movem, mas são os exemplos que inspiram atitude e comportamento semelhante.”


quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Do gengibre ao barbante queimado, qual a receita contra dor de cabeça que funciona?

Todo mundo tem uma receita caseira contra a dor de cabeça. Cheirar barbante queimado, tomar café e fazer compressas com batata crua na testa são apenas alguns conselhos ouvidos por quem sofre desse mal - nada menos que nove entre dez pessoas.

Justamente por ser um problema tão comum, a automedicação é adotada em 50% dos casos, o que justifica a opção por remédios caseiros que, segundo os especialistas, às vezes funcionam por auto-sugestão, o chamado "efeito placebo". Por outro lado, há quem consuma até dez analgésicos por dia para combater a dor, o que é alarmante.

Existem mais de 150 tipos diferentes de dores de cabeça, que se dividem entre primárias (relacionadas a distúrbios bioquímicos cerebrais ou mal funcionamento de neurotransmissores e receptores, cujo exemplo é a enxaqueca e dor de cabeça tensional), e secundárias (sinalizam a existência de problemas em alguma região do corpo, como tumores cerebrais, meningites, aneurismas ou resfriados).

Alimentos
Para o naturopata italiano Luca Avoledo, especialista em ciências naturais e nutrição, quando a cefaléia é recorrente, ela também pode estar relacionada a uma sobrecarga alimentar que precisa ser controlada. O excesso faz o organismo reagir com processos inflamatórios, que se manifestam por meio da dor de cabeça.

Nesses casos, diz Avoledo, "a melhor estratégia é manter-se longe de certos alimentos ricos em histamina, como queijos fermentados, salames, bebidas alcoólicas, peixes (especialmente os gordurosos) e tomate". Ele também recomenda que se evite chocolate, morango, carne de porco, castanhas e sementes oleaginosas (como de linhaça, girassol, gergelim e abóbora) porque estimulam a liberação da substância no organismo.

De acordo com o especialista, algumas pessoas são hipersensíveis a determinados alimentos. Nesses casos, só um teste de intolerância alimentar pode identificar os itens que devem ser banidos ou consumidos com parcimônia.

O naturopauta também afirma que alguns alimentos podem ajudar na prevenção dos sintomas, como a pimenta, que possui um componente chamado capsaicina, com função analgésica. O gengibre e o cúrcuma (raiz da família do gengibre e componente do curry) destacam-se por serem inibidores de várias moléculas pró-inflamatórias. Outra planta muito utilizada para as cefaléias, ele lembra, é o tanaceto (Tanacetum parthenium).

Terapia convencional
O neurologista Mário Peres, de São Paulo, concorda com Avoledo sobre a importância dos cuidados com a alimentação e acrescenta à lista do naturopata outros possíveis desencadeadores de dor de cabeça: adoçantes, condimentos, frutas cítricas e alimentos gordurosos.

O médico ressalta que jejuar também é um fator que deflagra a cefaléia e, por isso, sugere que os pacientes evitem longos períodos sem comer e refeições muito fartas. "Esses cuidados dificilmente vão curar a dor, mas são úteis para não agravá-la".

Já o neurologista carioca Abouch Valenty Krymchantowski é cético em relação ao uso de produtos naturais ou terapias como a homeopatia, exceção feita à acupuntura que, em caráter regular e preventivo, traz resultados satisfatórios, na opinião do médico.

O tratamento mais usual para as dores de cabeça freqüentes, descreve ele, é o uso de drogas que modulam a comunicação entre os neurônios, como o topiramato e o divalproato de sódio, combinadas com baixas doses de antidepressivos.

Indagado sobre a relação entre alimentos e dor de cabeça, Krymchantowski relata que apenas 25% dos pacientes têm crises devido à dieta e, segundo ele, a questão é supervalorizada. Mas ele faz uma ressalva: "Se o paciente apresenta crises consistentes após a ingestão de determinado alimento, a restrição é indicada até que as drogas usadas funcionem, o que pode levar de três a cinco semanas".

O médico relata que há indícios de que alimentos ricos em triptofano (aminoácido existente em folhas verdes e nozes) e magnésio (crustáceos) possam ser úteis para prevenir crises, mas muitos de seus pacientes "se empanturram disso e não melhoram antes do tratamento medicamentoso".

Para o neurologista, só o efeito placebo pode explicar o sucesso de medidas como comer gengibre. "Embora um especialista jamais receite um placebo, numa situação de emergência, se ao invés de injetar uma droga na veia, injetássemos água destilada, 30% dos pacientes iriam melhorar", aposta.

Cristina Almeida
Especial para o UOL Ciência e Saúde

Fonte: Uol

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